quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

CLUBES DE SERVIÇO: ROTARY E LIONS


Clubes de serviço: Rotary e Lions

Poucos cristãos conhecem essas organizações e muitos as associam à maçonaria. Afinal, participar de um clube desse tipo é pecado? A igreja evangélica permite a participação dos fiéis

Por Oziel Alves


Entre a metade do século XIX e os primeiros anos do século XX, vários grupos de ajuda humanitária surgiram em todo o mundo. Em torno deles, a polêmica: “clubes de serviço” ou “sociedades secretas”? Elks (1868), Rotary (1905), Kiwanis (1915) e Lions (1917) entraram em evidência. Foram os precursores de uma nova modalidade de clube, onde, ao invés de lazer, pagava-se para prestar serviço. Lá, os sócios se reuniam semanalmente com o objetivo de unir esforços e recursos financeiros provenientes de mensalidades e doações a fim de financiar programas e projetos de ajuda a pessoas carentes e comunidades necessitadas.

No entanto, para o Vaticano a “ajuda humanitária” era apenas uma fachada com o intuito de esconder a “verdadeira identidade”. As características comuns a estas organizações como “a composição, exclusivamente masculina, do quadro de membros efetivos” e o “método de ingresso dos novos sócios”, isto é, previamente selecionados por uma comissão eletiva, levantava suspeitas de que houvesse ligações intrínsecas entre os clubes e a maçonaria, lógica decorrente da semelhança dos costumes.

Segundo a reportagem “Worldy Rotary”, publicada no dia 22 de janeiro de 1951 pela TIME-CNN, nos anos 1928 e 29, houve uma campanha internacional especificamente contra o Rotary. O protesto liderado pelo veículo impresso do Vaticano, La Civiltà Cattolica, destacava que “seu código de ética apregoava princípios semelhantes aos da maçonaria, e a Igreja sustentava que seus ensinamentos filosóficos e morais tinham cunho religioso e iam contra a autoridade papal”. Distribuído em muitos países, o jornal defendia a idéia de que o clube era “demasiadamente amigo dos maçons” e perigosamente inclinado ao “erro” de tratar todas as religiões com igual valor.
Relatos do jornalista Gilbert Keith Chesterton, cristão e influente novelista inglês do início do século passado, apontam o início das oposições na Espanha quando os Bispos de Almeria, Leon, Orense, Palencia e Tuy começaram a rotular a instituição de “nada mais do que uma organização satânica com a mesma base e ensinos da maçonaria”.

As freqüentes suspeitas levaram a Santa Sé a se opor, incisivamente, à filiação, de qualquer integrante de seu quadro eclesiástico, aos referidos clubes. Em 1929 a Igreja oficializa a regra. Decreta a proibição da participação dos católicos nestas sociedades. Na época, muitos sacerdotes preocupados com as implicações da norma, vão a Roma tentar convencer as autoridades de que as instituições não eram maçônicas e que o movimento não entrava em conflito com os ensinamentos da Igreja.

Entretanto, a refutação fora estabelecida em forma de lei. O artigo 684 do Código de Direito Canônico ditava a regra: “Os fiéis deverão fugir das associações secretas, condenadas, sediciosas, suspeitas ou que procuram subtrair-se à legítima vigilância da Igreja”. Por sua vez, o artigo 2336 prometia “a suspensão ou privação de qualquer benefício, ofício, dignidade, pensão ou encargo que um clérigo pudesse ter; assim como a privação da voz ativa e passiva, além de outras penas, a todo aquele que desse seu nome à seita maçônica ou a outras ‘associações semelhantes’”. Para os conservadores, não havia dúvida, Rotary e Lions se enquadravam entre as “associações semelhantes”. (1)
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De fato, grande parte da membresia era adepta da maçonaria, apesar disso Rotary e Lions sempre negaram qualquer vinculo com sociedades secretas. Recentemente, objetos confirmando as suspeitas de que algumas lojas maçônicas eram compostas, exclusivamente, por rotarianos, vieram à tona. Um dos casos, é do Loja Rotária nº 4195 de Londres, cujas correspondências destacavam carimbos da ong e os típicos compassos com a letra ‘G’ em evidência, símbolo internacional do rito escocês.

De acordo com o jornalista e escritor C. R. Hewitt, a situação também acontecia de forma inversa. Em sua obra intitulada Towards My Neighbour ele enfatiza: “Alguns clubes rotários recrutavam somente os maçons”, porém o historiador Basil Lewis, ex-presidente do IGHFR (International Genealogy and Heraldry Fellowship of Rotarians), diz que a administração superior ao tomar conhecimento de casos isolados “enviou um comunicado obrigando todas as instituições do clube a, também, admitirem não-maçons, caso contrário perderiam suas concessões”.

Atualmente, lojas maçônicas amplamente divulgadas na rede mundial destacam ambos os fundadores do Rotary e do Lions, Paul Harris e Melvin Jones, respectivamente, como maçons. Harris, porém, nega o fato. Em uma carta datada de 19.09.1937, escrita a mão e endereçada ao governador de um dos distritos da instituição, Sr. Agripa Popsen, ele diz: “Eu nunca fui maçom, nem nunca tive qualquer relacionamento direto ou indireto com eles. Vou mais longe ainda, eu não sei nada sobre eles. Além disso, o Rotary em nada é associado a maçonaria e nunca ouvi de maçons influenciarem ou terem sido influenciados pelo Rotary”.

Apesar das inúmeras ligações indiretas entre o nome de Paul Harris e a maçonaria, como é o caso da ‘Loja maçônica Paul Harris’ funcionando desde 1981 em São Paulo, o advogado e escritor Dr. Oswaldo Pereira Rocha, membro do Rotary Club, Grão-Mestre Adjunto do GOAM e Presidente do Instituto Histórico da Maçonaria Maranhense declara: “Inexiste ligação ‘entre as três entidades e a maçonaria’ em que pese trabalharem pelo bem da humanidade, assim como qualquer tipo de conexão ritualística ou financeira”.

Durante este frenesi de especulações, o desenvolvimento dos clubes foi criticamente afetado e diversos estabelecimentos foram desativados. Neste período, pelo menos três forças provocaram impactos negativos: A supressão facista e o regime comunista totalitário, Hitler durante a segunda guerra mundial, e a influência do Vaticano.


O FIM DA REPRESSÃO

O quadro repressivo começa a mostrar os primeiros sinais de mudança por volta de 1933. A Santa Sé lentamente aceita repensar sua opinião. Na época, um grande número de católicos influentes na sociedade freqüentava os clubes, e a instituição administrava ações de ajuda em aproximadamente 83 países, conquistando, cada vez mais, amplo reconhecimento. A Igreja, pela primeira vez, permite que padres freqüentem e até se associem ao Rotary, usando da discrição. Todavia, em 1951 ela volta atrás em sua decisão e o artigo 684 ganha força, outra vez.

Segundo Dom Zeno Hastenteusel, 60 anos, Bispo da Diocese de Novo Hamburgo-RS, o assunto se encerra por completo “no dia 04 de dezembro de 1965, quando o Concílio Vaticano II aprova o documento Gaudium et Spes (alegria e esperança) que, definitivamente, se posiciona favorávelmente a todas as entidades filantrópicas e beneficentes”.

Somente após o colapso da Cortina de Ferro, é que os estabelecimentos desativados durante a Segunda Guerra Mundial foram restabelecidos na Europa e em 1990, pela primeira vez são abertos clubes na Rússia e em outras antigas repúblicas. Quirguistão, que fazia parte do território da ex União Soviética, é a mais nova adição ao mundo rotário.

A oposição defendida pela igreja católica há quase 8 décadas atrás, acabou. No lugar das antigas suspeitas existe o reconhecimento de que sem estes clubes causas importantes à humanidade, como programas de combate a fome, proteção ao meio ambiente, prevenção à violência, fim do analfabetismo, combate ao abuso de drogas e serviços de apoio à juventude e aos idosos ficariam desamparadas.


E OS EVANGÉLICOS, O QUE PENSAM SOBRE ESTAS ORGANIZAÇÕES?
A maioria dos líderes evangélicos não tem opinião formada sobre a participação de crentes em clubes de serviço, e na dúvida preferem responder com a pergunta: “Mas, porque fazer parte de uma instituição destas?”. Quando há desconhecimento de causa, o senso comum entra em campo e os questionamentos dos cristãos ficam a mercê de sutis e desembasadas associações com a maçonaria.

Afinal, a Igreja Evangélica permite a participação dos fiéis nestas organizações? Associar-se a um clube é pecado? Se realmente há grande número de maçons nestas ongs, o convívio pode causar algum prejuízo à vida espiritual do cristão? O que os pastores pensam sobre a doação de recursos financeiros a estas entidades filantrópicas? Existe parceria entre Rotary e a Igreja?

Carlenoel Zarro, 70 anos, é defensor público aposentado, cristão desde 1947, membro da 1º igreja Batista de São Gonzalo-RJ e atuante no Rotary Club há 39 anos. Atualmente é 2º Vice-Presidente de clube, mas já participou de todos os demais cargos da diretoria, incluindo a presidência. Frente as indagaçõçes, ele responde “Para mim não há qualquer empecilho quanto a participação de evangélicos associando-se a respeitável instituição. Não há ponto de colidência entre Igreja e Rotary. Trata-se de uma organização respeitada internacionalmente que visa a prestação de relevantes serviços humanitários”.

O escritor e teólogo Dr. Russel Shedd compartilha da mesma opinião “não há motivo para restrição ou proibição à participação de crentes no Rotary, se de fato não forem encontradas ligações com organizações secretas, espiritismo ou satanismo, que acredito, não há”. Quanto aos prejuízos a fé, ele declara “seriam apenas em gastar tempo promovendo benefícios sociais sem implicações diretas espirituais. Beneficiam a humanidade nesta vida sem se preocupar com a vida vindoura”.

Já, para Zarro: “Não existe prejuízos, sob hipótese alguma. Se assim o considerasse não teria permanecido como sócio até o presente. Ouso afirmar que os membros de uma igreja não se limitam, no seu dia a dia, somente em gastar tempo de forma a promover benefícios sociais com implicações diretas espirituais.”

Perguntado se a igreja tem muito a aprender com estas organizações quando o assunto é “ajuda ao próximo” Shedd declara: “São instituições diferentes, porém estar aquém na prática de boas obras vai ser sempre óbvio se esquecermos da ordem bíblica que crentes tem responsabilidade primária com os da comunidade da fé. A Igreja tem a obrigação de ajudar a família de Deus e evangelizar o mundo. Gálatas 6:10 diz ‘Façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé’.

Pastor Silas Malafaia é intolerante quando ouve falar que há cristãos associando estas instituições a maçonaria. “Coisa triste é ver um pastor ignorante. Tem muitos pastores falando do que não sabem. Só o conhecimento nos livra deste mal, por isso é bom se informar antes”. Ele prossegue “É lógico que nós abominamos sociedades secretas, mas Rotary e Lions nada têm a ver com isso. São sociedades abertas, instituições sérias, éticas e que desenvolvem trabalhos importantíssimos junto a comunidade. Eu já palestrei nos encontros deles. Já fui convidado a participar. Só não participo porque não tenho tempo. Membrar-se ao clube, em absolutamente nada prejudicaria a nossa fé”.

Com relação aos lideres que se opõem as doações financeiras que seus liderados possam fazer a estas instituições, ao invés de investirem em causas sociais da igreja, Pastor Malafaia, rebate “Quando aquela mulher derramou um nardo puro aos pés de Jesus, teve um cara que falou ‘este dinheiro poderia ser dado aos pobres’, Jesus, porém disse: os pobres nós temos conosco. Parece que eu vejo a história se repetir. Há gente que está sempre colocando empecilhos quando alguém toma uma iniciativa para realizar o bem ao ser humano. Os dois maiores mandamentos da bíblia são ‘Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo’. Então, qualquer ação em direção ao próximo é tremendamente espiritual e bíblica. Pastor não é dono do dinheiro de membro nenhum. Minha linha doutrinária é o livre arbítrio. O membro tem direito de investir onde ele quiser. Se o pastor está com medo de uma instituição dessas eu não sei o que ele esta fazendo como pastor.”

Perguntado se há implicações no fato de haver grande número de maçons dentro destas instituições, ele explica: “Paulo em I Coríntios 5 escreve: ‘Se vocês não quiserem se comunicar com devassos, avarentos, roubadores ou idólatras é melhor que saiam deste mundo’. A bíblia é muito mais inflexível em relação a amizade com aquele que diz ser cristão, e não é, do que com os não cristãos. Está escrito ‘Não vos comuniqueis com aquele que dizendo ser irmão, for devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou roubador; com esse tal nem sequer comais (I Co 5:11)’. Então, não é o ambiente que determina quem nos somos, nós é que determinamos como o ambiente será”.

A conscientização dos cristãos com relação as entidades filantrópicas e beneficentes precisa mudar. Rotary e Lions estão de portas abertas para ajudar a quem for preciso, incluindo igrejas evangélicas.

Orlando Oliveira, Procurador do Município, atualmente presidente do Rotary Club de Guaíba-RS, e membro da Igreja Assembléia de Deus desde 1964, confirma o apoio que vem obtendo da instituição: “Desde o ano de 2005 o Rotary Club Guaíba Cipreste tem se tornado parceiro ativo na implantação e desenvolvimento do Musical ABC, colaborando com a restauração do prédio de da Associação Comunitária onde funciona um dos núcleos do projeto e doando instrumentos, apoio este que, como Coordenador do Departamento de Música do Setor e Monitor do Projeto, entendo ser de importância singular, além de demonstrar que o Rotary efetivamente é um clube de serviço preocupado com o bem estar da comunidade, independentemente de credo religioso.” O projeto foi elaborado no ano de 2004 pelo Departamento de Música do Setor Bom Fim da Igreja Evangélica Assembléia de Deus de Guaíba-RS e desde então tem sido utilizado como meio de transmissão da vontade divina, através da linguagem universal da música, a comunidade em geral. A parceria tem proporcionado fantástico crescimento cultural a seus participantes, ajudado a tirar crianças e adolescentes da ruas, bem como fortalecido os laços familiares trazendo paz e harmonia as famílias.
Mais de 250 pessoas entre crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos já participaram do Musical ABC e destes, 175 alunos receberam certificado de aproveitamento.
Didaticamente o projeto é dividido em três níveis: A, B e C. O Nível A compreendendo, em síntese, conhecimentos teóricos e iniciais de música, o Nível B na aplicação prática dos conhecimentos iniciais em flauta doce e o Nível C, dividido em vários subníveis, consistindo no aprofundamento dos conhecimentos adquiridos nos Nível A e B praticado em instrumentos específicos.

As ajudas não param por aí. Os clubes de serviço mostraram a que fim vieram. Agora, é necessário a Igreja atualizar seus conhecimentos e opiniões.

ROTARY


O Rotary é uma rede mundial de voluntários dedicados à prestação de serviço social. Fundado por Paul Harris e três amigos em 23.02.1905, na cidade de Chicago, a instituição tem como lema “Dar de si antes de pensar em si”. Suas metas são “melhorar a qualidade de vida da humanidade reduzindo disparidades mundiais em áreas como educação, saúde, agricultura, tecnologia, saneamento, recursos hídricos e pequenos negócios”, assim como, promover a paz e a harmonia entre os povos. Atualmente, há mais de 1.216,000 membros, distribuídos em 32.613 clubes espalhados por 205 países e regiões.


A instituição pode ser divida em três grandes blocos: Os Rotary Clubs, O Rotary Club Internacional e a Fundação Rotaria.


ROTARY CLUBS


Não sectários e apolíticos, os Rotary Clubs são abertos a todas as raças, culturas e credos, e estão espalhados por diversas cidades do Brasil e do mundo. Homens, mulheres, jovens e adolescentes integram os diversos programas da ong. Para os jovens de 14 a 18 anos há o INTERACT. Para os universitários e recém formados entre 18 e 30 anos, o ROTARACT. Após os 30 anos, o cidadão pode ser membro efetivo do ROTARY.


ROTARY CLUB INTERNACIONAL


O ROTARY CLUB INTERNACIONAL é a maior organização não governamental existente e a única com assento permanente na ONU. Em 1945 49 rotarianos participaram da conferência em São Francisco onde foram lançadas as bases para a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU). A instituição mantém também, status consultivo perante o Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).


FUNDAÇÃO ROTÁRIA
A FUNDAÇÃO ROTÁRIA é uma entidade comprometida com o Rotary Internacional na missão de desenvolver e financiar programas humanitários, educacionais e culturais.

Entre os programas prioritários estão:

Pólio Plus – O projeto criado em 1985 é considerado o programa mais ambicioso do Rotary. Desenvolvido em parceria com o UNICEF, OMSl e GOVERNOS NACIONAIS visa a erradicação mundial da paralisia infantil. A ong já investiu mais de US$ 595 milhões nesta atividade. Nos países em que a fundação teve acesso 99% da doença foi combatida.

Centros de Rotary de Estudos internacionais na área da paz e resolução de conflitos.
Bolsas educacionais - Mais de 1300 estudantes viajam ao exterior como bolsistas do Rotary.
Intercâmbio de Grupos de Estudos (IGE)
Subsídios equivalentes
Subsídios “Saúde, Fome e Humanidade” (3-H)
FONTE: http://ozielfalves.blogspot.com/2007/07/clubes-de-servio-rotary-e-lions.html

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