quinta-feira, 24 de junho de 2010

Saramago

Não direi:

Que o silêncio me sufoca e me amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
pois que a língua que falo é de outra raça.
(...)
Só direi,
crispadamente recolhido e mudo,
que quem se cala quando me calei,
não poderá morrer sem dizer tudo."


(Fragmento de "Poema à boca fechada". José Saramago)


No dia 18 de junho, as 12:30 horas, o escritor José Saramago disse adeus ao mundo serenamente. Talvez, em seu último respiro terrestre, tenha lembrado da frase da sua avó Josefa: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não creio que ele, como homem filosoficamente ponderado, tivesse pensado na frase com alguma amargura, mas com o lirismo tocante de quem lamenta perder a beleza da vida e, especialmente, do amor...este amor humanista que lutou pelos injustiçados...este amor de escritor que se comprometeu com as palavras...este amor de homem que viveu com Pilar Del Rio...


Sobre a musa amada e companheira ele disse numa entrevista: "Se eu tivesse morrido ao 63 anos antes de lhe ter conhecido, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora"... ainda bem que aos 63 anos ele a conheceu, não fosse isso, todos nós estaríamos mais pobres de sua literatura produtiva e vigorosa bem antes de 2010...