segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Primeiro, as primeiras coisas


Planejar não é mesmo a "praia" da média dos brasileiros. Eles, de modo geral, preferem ir "fazendo" do que gastar algum tempo antes pensando e planejando como fazer. Numa empresa, esta característica é menos evidente porque um funcionário se vê obrigado a proceder de modo mais organizado. Pensar, antecipar e planejar são dinâmicas que fazem parte da vida empresarial e profissional. Porém, a falta de planejamento fica mais evidente na administração da vida pessoal. Todo o ano ouvimos os mesmos relatos dos anos anteriores quando, por exemplo, chega o Natal. Por falta de uma antecipação, de um planejamento financeiro, muitos de nós acaba comprando mais do que pode “supondo” que poderá pagar com os adicionais do mês de Dezembro, acrescidos dos complementos de Janeiro, juntamente com as economias que fará ao deixar de gastar no mercado, e etc. Poucos meses depois os relatos são de cheques voltando, empréstimos sendo feitos, mercadorias sendo devolvidas, negociações para esticar os prazos, e assim por diante. O resultado mais imediato, além do déficit financeiro é o desequilíbrio emocional, que por sua vez produz outros efeitos em cascata que são as tensões relacionais, domésticas e conjugais.
Por não ter essa inclinação para o planejamento, muitos casais sofrem com a falta de prioridades no lar. Planejar e estabelecer prioridades são atividades não só desejáveis, elas são essenciais. Um casal que pretende conformar-se às Escrituras crescerá na arte de estabelecer prioridades. Quando o Senhor Jesus está enfatizando que para alguém ser discípulo dEle é necessário não só uma vida de abnegação (Lc.14.25,26), como também uma vida de identificação total e completa com Ele (Lc.14.27), Ele em seguida lança mão de uma figura que diz respeito a um construtor e a construção que pretende realizar (Lc.14.28-30). O discipulado, ensina o Senhor Jesus, precisa ser antecipadamente avaliado e ter os seus custos considerados, para que não haja uma interrupção do processo e em seguida, uma desistência. O Senhor está ensinando que o discípulo que almeja seguí-lo precisa sentar para considerar as possibilidades e os custos. Ele está ensinando ao discípulo a pensar antecipadamente, a planejar, a estabelecer prioridades para a sua vida, a fim de que ela se conforme cada dia à imagem do Filho (Rm.8.29).
Planejar e estabelecer prioridades não é uma questão emocional. Antes, é uma decisão que requer disciplina. De modo geral, estabelecer prioridades para o casamento não tem sido uma prioridade para a maioria dos novos casais. O que alguns tem feito são alguns ensaios com o orçamento. Porém, estabelecer prioridades para o casamento é algo que vai além das finanças da família. Estou envolvido com um casal atualmente que irá se casar em alguns meses. O testemunho deles, sincero e transparente, tem sido que a única coisa que eles conseguem conversar quando estão juntos é sobre o próximo item a comprar ou que está na lista para preparar. Nos últimos meses eles não tem tido tempo para mais nada além disso, para pensar em decisões mais profundas e permanentes para o “depois”, para quando ambos não tiverem mais nada tão urgente para procurar ou comprar. O tempo de aconselhamento pré-nupcial tem provido alguma oportunidade para esse aprofundamento. Porém, este casal sabe que precisa estabelecer prioridades para o novo lar e já está empenhado neste projeto. Isto porque eles tem aprendido que casamento não resolve problemas, apenas os revela. A fim de prevenir problemas futuros e melhor se adaptar às Escrituras, quero propor três prioridades para o casal que promoverão a vitalidade do relacionamento com Deus, com o cônjuge e com os filhos.
Estabelecendo prioridades bíblicas
1. Ninguém e nada é mais importante do que o Senhor e Sua Palavra
A primeira prioridade para qualquer pessoa e, portanto, para qualquer casal, é decidir por um relacionamento significativo com Deus e mantê-lo. Este é o chão, o fundamento sobre o qual toda a “construção” do novo lar vai estar edificada. Esta foi a ordem do Senhor para Moisés: “Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração;” (Dt.6.6). Quais palavras seriam para estar no coração de Moisés? Eram os mandamentos. Guardar os mandamentos é a evidência mais nítida de amor ao Senhor. Isto está registrado no verso anterior: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força.” (Dt.6.5), e foi enfatizado por Jesus mais tarde, quando Ele falava aos seus discípulos: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; ....” (Jo.14.21). Um casal bem sucedido é aquele que, cada um, marido e esposa, ama o Senhor de tal maneira que guarda a Sua Palavra no seu coração, e manifesta este amor ao Senhor através de uma obediência humilde.
Porém, uma constatação triste é que um grande número de casais, por não ter claro esta prioridade, vive debaixo da tirania da falta de tempo. Este é o argumento mais comum quando sua comunhão com Deus está ficando sem vitalidade ou mesmo nem existindo. “Trabalho muito, não tenho tempo”, é algo que parece razoável e tem sido bem aceito por todos. É incontestável a falta de tempo, especialmente em grande centros urbanos. Porém, uma pessoa não poderá nunca se esquecer que se no seu dia ela não tem tempo para se dedicar a conhecer o pensamento de Deus, ela está fazendo mais coisas do que o Senhor gostaria que ela fizesse. Tempo com Deus é prioridade número “1”. Tempo com Deus e Sua Palavra não é somente algo desejável ou bom, é sobretudo, essencial, vital. Um novo casal precisa decidir a este respeito se deseja manter a vitalidade do seu casamento e do seu relacionamento com Deus.
2. Minha família – as pessoas mais importantes da minha vida
Uma outra prioridade é o tempo com a própria família. E nesta ordem, ou seja, primeiro o Senhor e Sua Palavra e depois os da minha casa. Como tem sido desastroso ver famílias sendo compostas, cada dia mais, de pais ausentes. Os argumentos vão desde a realização profissional da esposa até a inescapável exigência que tem sido imposta por algumas empresas. Tenho visto que algumas empresas não contratam mais apenas um funcionário. Na verdade, elas estão procurando um “cônjuge”. Isto porque esse funcionário terá que estar sempre disponível para qualquer ligação ou bip que lhe informe de que está sendo esperado para resolver algum tipo de problema na empresa. Isto tem roubado a convivência entre marido e esposa, pais e filhos. Um jovem casal terá que ter muita sabedoria para lidar com essas exigências.
Uma pessoa que atualmente trabalha numa empresa e tem a oportunidade de aceitar um novo trabalho sob novas condições, com uma proposta financeira muito melhor do que a anterior ou atual, precisa considerar mais áreas do que apenas a financeira. De outro modo, este marido ou esposa estará minando os alicerces do seu relacionamento conjugal e familiar. Um emprego que pague melhor, bem melhor, mas que exigirá um maior comprometimento do tempo, precisa ser considerado cuidadosamente. Há uma relação de custo e benefício aqui que precisa ser bem ponderada. Infelizmente a escolha de um novo trabalho, de uma nova função, tem sido feita, quase que invariavelmente, com base numa consideração única – salário.
Maridos e esposas que muitas vezes tem tido a oportunidade de se dedicar mais ao lar, tem preferido ocupar esse tempo com outras atividades. Há maridos que substituem o retorno para casa por um tempo adicional com colegas de trabalho. Isto pode ser bom, embora nem sempre seja, se for ocasional, mas não será saudável se for habitual. De outro lado, tenho visto algumas mães queixando-se de seus filhos pequenos. Estas tem reclamado do “trabalho” que dá cuidar deles. Incrível é que desde bem cedo já estão alimentando a possibilidade de colocarem o filho na “escolinha”. Estas mães não conseguem perceber o quanto é importante elas estarem junto de seus filhos nesta tenra idade, para influenciar, comunicar a fé, instruir, corrigir, dar os padrões das Escrituras. Tempo juntos é uma prioridade que tem sido esquecida. E, o tempo que tem sido usado para que marido e esposa fiquem juntos, não tem sido mais utilizado para aprofundar a comunhão, pensar juntos, orar juntos, desfrutar um da companhia e amizade do outro. Antes, esse tempo tem sido utilizado quase que sempre para atividades de lazer. Cônjuges tem chamado a isto de “tempo de qualidade”. Na verdade, o padrão de quantidade de tempo tem sido substituído por qualidade de tempo. E, isto que dizer que o tempo para a família será menor do que o necessário, o que por si só já indica para mim um prejuízo na qualidade. Em outras palavras, nem tempo e nem qualidade. O tempo que tem sido reservado para a família, acaba sendo o tempo que sobra depois de tudo ter sido antes equacionado. O resultado para a família é a desagregação dela.
Tanto um marido terá que avaliar esta área de sua vida, quanto uma esposa terá que fazer o mesmo. Seria uma decisão saudável o casal pensar sobre o que é esperado, à luz das Escrituras, de um marido e de uma esposa no casamento. Um jovem casal, que pretende ser sábio, priorizará esta área. Quando minha esposa e eu nos casamos, tínhamos já algumas convicções. Uma delas dizia respeito ao tempo dela com os filhos assim que eles chegassem. Decidimos isto após olhar para a importância da mãe nas Escrituras. Ela decidiu dar todo o seu tempo para influenciar três filhos que chegaram. Porém, para isto acontecer, ela abriu mão de sua bem sucedida carreira de instrumentadora cirúrgica, que na época remunerava muito bem, a despeito das muitas vozes que gritavam para que ela não fizesse exatamente assim. Minha esposa soube estabelecer prioridades. Seus filhos e marido, e não sua carreira, foram a sua prioridade. Os efeitos de sua escolha voluntária nós podemos perceber agora quando nossos filhos já chegaram (uma já passou) na adolescência. Obediência, afeto, demonstrações claras de amor, harmonia, unidade. Entretanto, isto teve um preço para ela. Ela priorizou o seu marido e os seus filhos.
3. Convivência com a igreja local – necessário para a fé permanecer sadia
Depois de considerar a prioridade no tempo com a família, tocando ainda que levemente em aspectos que dizem respeito ao trabalho, um jovem casal terá que priorizar a convivência com a sua igreja local. Há muito engano aqui. Dois erros tendem a ser mais evidentes aqui. O primeiro deles é a substituição do tempo da família pelo tempo nas atividades da igreja. Para estes casais, há uma confusão entre tempo com Deus e tempo na igreja. Para estes, tempo com Deus é sinônimo de tempo com a igreja. Estão em “todas” as atividades, ou quase todas, se desgastam no serviço para ao final desfrutar de uma sensação de utilidade. Tal engano é muito nocivo à saúde do casamento, à saúde da família. O outro engano, porém, diz respeito aos cônjuges que tem substituído a sua participação na igreja quase que por qualquer outra coisa. Dá a impressão que quase qualquer argumento lhes parece aceitável para não se envolverem com a igreja local. Um jovem casal terá que sentar e lidar com esta área da vida.
Um casal que conheço casou cheio de intenções nobres e compromissos verbais assumidos um com o outro. Porém, estranhamente, após alguns meses eles estavam mais ausentes das atividades da igreja do que antes. Quando amorosamente confrontados (Hb.10.25), havia sempre um argumento que era apresentado para justificar a ausência. A maioria dos argumentos poderia ser questionada. O resultado, foi uma perda da vitalidade na fé. Esta perda de vitalidade está ligada ao desprezo ao Senhor e à Sua Palavra, como mencionado antes, mas também, está ligada ao desprezo a esta prioridade. Um casal que não prioriza a sua participação na igreja, na adoração coletiva e na comunhão com o Corpo, está priorizando a perda da vitalidade, do entusiasmo, da disposição de servir e obedecer. Está na verdade priorizando as tensões e os conflitos que ficarão sem solução. Este casal não tem brilhado num mundo de escuridão, de trevas, e isto porque tem desprezado tanto um tempo de buscar a presença do Senhor para obedecê-lo, como tem desprezado sua participação nas atividades da igreja, na comunhão e no serviço.
Certamente você que está começando sua vida conjugal, fará bem se priorizar estas três áreas. Elas o colocarão nos trilhos da vontade desejada de Deus, e como resultado, lhe proporcionarão vitalidade não só na fé, como também no relacionamento conjugal e familiar. Este pode ser um projeto de vida para este começo de ano, década, século e milênio. Que tal começarmos com estas três prioridades?
Que o Senhor nos conceda graça para não nos perdermos nas exigências enganosas do nosso tempo e coração, bem como nos dê graça para vivermos uma vida conjugal e familiar pautada por prioridades biblicamente estabelecidas.

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