quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Maduro aumenta militarização da sociedade na Venezuela



Partidários do chavismo protestam no estado de Mirando contra o governo do opositor Henrique Capriles.
Foto: LEO RAMIREZ / AFP
Partidários do chavismo protestam no estado de Mirando contra o governo do opositor Henrique Capriles. LEO RAMIREZ / AFP
CARACAS - À deriva, a revolução bolivariana tem seu próprio ritmo: a marcha militar. Nicolás Maduro está apostando na militarização da sociedade e da política para aguentar a crise social e econômica mais aguda do chavismo na última década. E o faz pisando no acelerador em três frentes: o crescimento das milícias, o fortalecimento das Forças Armadas e a aposta de generais para novos altos cargos de governo.
O presidente escolheu o Quartel da Montanha, emblemático da revolução e epicentro do culto de Hugo Chávez, para avançar seus planos.
- A Milícia Bolivariana é uma força moral enorme no centro agora, na resposta de logística para a guerra econômica. São as forças de dissuasão para os que têm sonhos loucos contra a pátria - afirmou Maduro, que disse que seus combatentes “têm que ter seu uniforme correto, equipamentos, armas, orientação e treinamento”.
Ação em todo território nacional
Se cumprirem as suas ordens, a milícia bolivariana continuará crescendo até atingir meio milhão de membros em 2015 e um milhão em 2019. Este órgão civil e armado é composto em grande parte por ativistas do governista PSUV ou simpatizantes do chavismo. Milicianos dispostos a defender a revolução são “o sonho de Nicolás Maduro”, destaca a especialista em defesa Rocío San Miguel. Para ele, o novo líder bolivariano quer contar com todos.
- Vou pedir a todos os nossos ministros que ingressem como milicianos e fortaleceremos a construção do corpo de combatentes - afirmou Maduro.
A milícia bolivariana já participa hoje de diversas operações em todo o país, e não somente como guias turísticos no Quartel da Montanha, onde descansam os restos mortais do “comandante eterno”. Eles também vigiam hospitais, cobram produtos em caixas de supermercado, controlam a venda de gasolina na fronteira ou patrulham os transportes públicos.
Há milícias por todos os lados, inclusive nas fábricas. O “filho de Chávez” anunciou em maio a criação da milícia obreira para “resguardar” a classe trabalhadora. Alguns de seus membros já apareceram armados com fuzis do governo. Eles têm mais participação no estado de Bolívar, sede das grandes industrias básicas do país, que nos últimos meses vem assistindo a conflitos trabalhistas.
- Queriam evitar os protestos na Guiana através dos milicianos, mas não tiveram êxito algum - afirmou San Miguel, contrário às milícias desde o primeiro dia.
A especialista, conhecedora dos meandros do quartel, argumenta que “há uma resistência interna no Exército, apesar de que o alto comando da milícia é todo composto por militares”. Ela alerta para o perigo do controle das armas, que já abundam no país.
Presidente cercado de generais
Maduro não só pretende militarizar a sociedade, mas também não hesita em se cercar de militares. Na verdade, colocou o ex- comandante geral da milícia Gustavo González à frente do polêmico Centro Estratégico de Proteção à Pátria (Cesppa) com poderes plenos de censura. Outra general muito perto do líder falecido, Hebert García Plaza, preside o Órgão Superior para a Defesa da Economia. Fecha o círculo o major Antonio Pérez, desde quinta-feira à frente da Fundação Povo Soberano, uma das entidades integradas ao Vice-ministério da Suprema Felicidade do Povo Venezuelano.
Todos eles se beneficiarão do milionário orçamento designado pelo Executivo ao Ministério da Defesa: mais de US$ 2 milhões somente para salários, o equivalente a 60 entidades públicas, segundo cálculos do jornal “El Mundo Economia e Negócios”. O aumento é de 28% e se soma aos contínuos presentes que Hugo Chávez distribuía a seus colegas .Os orçamentos para 2014 deixam bem clara a aposta revolucionária: o Ministério da Defesa também terá outros US$ 4 milhões para "aumentar a capacidade defensiva do país".
Maduro também anunciou que vai continuar comprando armas dos russos, seu principal fornecedor; a criação de um banco para as Forças Armadas, um canal de TV e uma empresa de carga e logística.
- Os militares recuperam o poder de decisão sobre a vida nacional - alertou Teodoro Petkoff, diretor do jornal “Tal Cual” e um dos líderes intelectuais da oposição.

fonte: oglobo.com

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