segunda-feira, 24 de junho de 2013

China: com a falta de cemitérios, cada vez mais enterros no mar



MAIS BARATO -- Funcionária de uma funerária da cidade de Dalian durante cerimônia em que cinzas e pétalas são jogadas no mar (Foto: Color China Photo / AP)
MAIS BARATO -- Funcionária de uma funerária da cidade de Dalian durante cerimônia em que cinzas e pétalas são jogadas no mar (Foto: Color China Photo / AP)
Texto de Tatiana Gianini, publicado em edição impressa de VEJA
À FALTA DE CEMITÉRIO,…
…prefeituras chinesas subsidiam os funerais em alto-mar. Com a valorização imobiliária e o envelhecimento da população, há menos espaço para enterrar os mortos
No país mais populoso do mundo, enterrar os parentes mortos é uma missão árdua. Com 1,3 bilhão de habitantes, a China enfrenta o desafio de manter as tradições de culto aos falecidos em meio à demanda em alta por espaço urbano. A política do filho único aumentou a proporção de idosos na população e, com isso, elevou a taxa de mortalidade.
No país, registram-se 7,1 mortes por 1000 habitantes. No Brasil, em comparação, o dado é de 6,4. Quase 10 milhões de pessoas morrem a cada ano na China. O número deve dobrar até 2025. A quantidade de cemitérios não tem aumentado na mesma proporção. Em Xangai, onde o problema é mais grave, estima-se que não haverá sepulturas disponíveis no prazo de sete anos.
A solução é cremar os mortos e lançar as cinzas no mar. O ritual é realizado em grandes embarcações administradas pelas agências funerárias. As famílias chegam às docas logo pela manhã, já com as urnas dos parentes em mãos. Longe da terra, as cinzas são misturadas com pétalas de flores e lançadas na água. Esse procedimento fúnebre conta com subsídios estatais em Xangai e em outras dez cidades.
Na maior metrópole da China, com 20 milhões de moradores, os enterros no mar ainda representam apenas 1,5% dos funerais, mas a modalidade cresce a uma taxa de 10% ao ano.
Na China, onde as tradições milenares duram até o próximo decreto do Partido Comunista, os funerais no mar são uma tendência recente. Em 1949, ano da Revolução Comunista, Mao Tsé-Tung instituiu que todos os mortos deveriam ser cremados. O objetivo era evitar que as terras produtivas se convertessem em amplos cemitérios.
Hoje, a cremação ainda é a regra, principalmente nas cidades. Mas os chineses preferem enterrar as urnas com as cinzas, porque muitos acreditam que a alma só descansa em paz se o corpo que ela habitava repousar em terra firme. A falta de espaço, contudo, elevou o valor dos terrenos e inibiu a construção de cemitérios.
Nas grandes metrópoles, o preço de um jazigo para uma urna é de 24000 iuanes, ou 8300 reais, o equivalente a sete meses de salário, em média, de um trabalhador chinês. As famílias também precisam arcar com os 200 reais da cremação. Nos últimos anos, os custos elevados obrigaram os chineses mais pobres a usar praticamente as suas economias de toda a vida para pagar o enterro dos pais.
Para esses antigos “escravos do túmulo”, como ficaram conhecidos, os funerais no mar, a custo zero, são uma forma mais leve de se despedir de seus entes queridos.

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