FERNANDO MELLO-FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
Quase metade das viagens internacionais feitas pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva após deixar o governo foi bancada por grandes
empreiteiras com interesses nos países que ele visitou.
Todos eles ficam na América Latina e na África, de acordo com documentos oficiais obtidos pela Folha. As duas regiões foram prioridades da política externa do petista em seus dois mandatos.
No exterior, Lula promete repassar pedidos para Dilma
Outro lado: Instituto diz que objetivo de Lula é o interesse da nação
Outro lado: Instituto diz que objetivo de Lula é o interesse da nação
A assessoria do ex-presidente diz que ele trabalha para promover
"interesses da nação" e não das empresas que bancam suas atividades.
Mas políticos e empresários familiarizados com as andanças de Lula disseram à Folha que ele ajudou a alavancar interesses de gigantes como Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht nesses lugares.
Ricardo Stuckert - 19.nov.2012/Instituto Lula | ||
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como presidente de Moçambique, Armando Guebuza, em novembro de 2012 |
Um telegrama diplomático de novembro do ano passado, enviado ao
Itamaraty pela embaixada do Brasil em Moçambique após uma visita de
Lula, diz que ele ajudou empresas brasileiras a vencer resistências
locais ao "associar seu prestígio" a elas.
Desde 2011, Lula visitou 30 países, dos quais 20 ficam na África e
América Latina. As empreiteiras pagaram 13 dessas viagens. Na última
terça-feira, Lula iniciou novo giro africano, começando pela Nigéria, e
patrocinado por Odebrecht, OAS e Camargo.
O Instituto Lula não informa os valores que recebe das empresas.
Estimativas do mercado sugerem que uma palestra no exterior pode render a
Lula R$ 300 mil, sem contar gastos com hospedagem, comida e transporte.
Os nomes dos financiadores das viagens de Lula aparecem nos telegramas diplomáticos obtidos pela Folha.
As empresas negam ter pago as viagens de Lula para que ele defendesse seus interesses.
Dois procuradores da República, um delegado federal, um juiz e dois advogados disseram à Folha que não há, a princípio, irregularidades nas viagens por não haver lei sobre a atuação de ex-presidentes.
Em novembro de 2012, Lula viajou para quatro países (África do Sul,
Moçambique, Etiópia e Índia). Segundo nota divulgada pelo Instituto Lula
na ocasião, o objetivo era a "cooperação em políticas públicas e
ampliação das relações internacionais", mas o telegrama da embaixada
brasileira deixa claro que o assunto da viagem era outro.
As duas primeiras paradas foram pagas pela Camargo Corrêa. Em
Moçambique, a empresa participou das obras de uma mina de carvão
explorada pela Vale, que meses antes fora alvo de protestos de centenas
de famílias removidas pelo empreendimento.
Segundo o telegrama da embaixada brasileira que relatou ao Itamaraty a
visita de Lula, o ex-presidente contribuiu para reduzir resistências que
as empresas brasileiras enfrentam em Moçambique.
"Ao associar seu prestígio às empresas que aqui operam, o ex-presidente
Lula desenvolveu, aos olhos moçambicanos, compromisso com os resultados
da atividade empresarial brasileira", escreveu a embaixadora Lígia
Scherer.
Em agosto de 2011, Lula começou um tour latino-americano pela Bolívia,
onde chegou "com sua comitiva em avião privado da OAS", como anotou o
embaixador Marcel Biato em telegrama.
O primeiro compromisso foi um encontro com o presidente Evo Morales. Na
época, protestos impediam a OAS de tocar uma rodovia de US$ 415 milhões.
Foi um dos temas da conversa, dizem empresários da Bolívia que pedem
sigilo.
La Paz cancelou o contrato, mas deu US$ 9,8 milhões como compensação à OAS.
Da Bolívia, ainda bancado pela OAS, Lula viajou para a Costa Rica, onde a
empresa disputava uma obra de US$ 57 milhões. A OAS foi preterida após a
imprensa local questionar o papel de Lula.
Após nove meses, a OAS ganhou a concessão da rodovia mais importante do país (negócio de US$ 500 milhões).
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/
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