Universidade na Finlândia (Foto: AFP)
O país com a melhor educação do mundo é a Finlândia.
Por quatro anos consecutivos, o país do norte da Europa ficou entre os
primeiros lugares no Programa Internacional de Avaliação de Alunos
(Pisa), que mede a qualidade de ensino. O segredo deste sucesso,
segundo Jaana Palojärvi, diretora do Ministério da Educação e Cultura da
Finlândia, não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários,
uso da tecnologia em sala de aula ou exames gigantescos como Enem ou
Enade. Pelo contrário: a Finlândia dispensa as provas nacionais e aposta
na valorização do professor e na liberdade para ele poder trabalhar.
Jaana Palojärvi esteve em São Paulo nesta quinta-feira (23) para
participar de um seminário sobre o sistema de educação da Finlândia, no
Colégio Rio Branco. A diretora do ministério orgulha-se da imagem de seu
país "tetracampeão" do Pisa. O ranking é elaborado pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e aplicado a cada
três anos com ênfase em uma área do conhecimento. No último, em 2010, o
Brasil ficou na 53ª colocação entre 65 países. Uma nova edição do Pisa
será lançada em dezembro.
Na Finlândia a educação é gratuita, inclusive no ensino superior. Só 2%
das escolas são particulares, mas são subsidiadas por fundos públicos e
os estudantes não pagam mensalidade. As crianças só entram na escola a
partir dos 7 anos. Não há escolas em tempo integral, pelo contrário, a
jornada é curta, de 4 a 7 horas, e os alunos não têm muita lição de
casa. "Também temos menos dias letivos que os demais países, acreditamos
que quantidade não é qualidade", diz Jaana.
A diretora considera que o sistema finlandês de educação passou por
duas grandes mudanças, uma na década de 70 e outra em 90. A partir do
início da década de 90, a educação foi descentralizada, e os municípios,
escolas e, principalmente, os professores passaram a ter mais
autonomia.
"Fé e confiança têm papel fundamental no sistema finlandês.
Descentralizamos, confiamos e damos apoio, assim que o sistema funciona.
O controle não motiva o professor a dar o melhor de si. É simples,
somos pragmáticos, gostamos de coisas simples."
Jaana Palojärvi é diretora do Ministério da Educação
da Finlândia (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
da Finlândia (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
O governo também não costuma inspecionar o ensino das 3.000 escolas que
atendem 55.000 estudantes na educação básica. O material usado e o
currículo são livres, por isso podem variar muito de uma unidade para
outra.
"Os professores planejam as aulas, escolhem os métodos. Não há prova
nacional, não acreditamos em testes, estamos mais interessados na
aprendizagem. Os professores têm muita autonomia, mas precisam ser bem
qualificados. Esta é uma profissão desejada na Finlândia."
Os docentes da Finlândia ganham, em média, 3 mil euros por mês, em
torno de R$ 8 mil reais, considerado um salário "médio" para o país.
Para conquistar a vaga é preciso ter mestrado e passar por treinamento. O
salário aumenta de acordo com o tempo de casa do professor, mas não há
bônus concedidos por mérito. A remuneração não é considerada alta. "Em
compensação, oferecemos ao professor um ambiente de trabalho
interessante."
Jaana diz que a educação na Finlândia faz parte de uma cultura,
resultado de um trabalho longo, porém, simples, mas evita dar lições ou
conselhos a outras nações. "Temos muitas diferenças em relação ao
Brasil, que é enorme, somos um país pequeno de 5,5 milhões de
habitantes. Na Finlândia não temos a figura do Estado, a relação fica
entre governo, município e escola. O sistema é muito diferente. A
Finlândia não quer dar conselhos, nós relutamos muito em relação a
isso", afirma.
Mais do que o bom resultado do país no Pisa, Jaana comemora a equidade
entre as escolas – também apontada pelo exame. "Para nós, é o mais
importante. Queremos que as escolas rurais localizadas nas florestas, ou
do Norte que ficam sob a neve em uma temperatura negativa de 25 graus,
tenham o mesmo desempenho das da capital, das áreas de elite. E (este
desempenho) é bem semelhante."
Entre todos os países testados pelo Pisa, a Finlândia tem a menor
disparidade entre as escolas. O resultado tem explicação. Lá, os alunos
mais fracos estão sob a mira dos docentes. "Os professores não dedicam
muita atenção aos bons alunos, e sim aos fracos, não podemos perdê-los,
temos de mantê-los no sistema."
'Tecnologia é ferramenta, não conteúdo'
Tecnologia também não é o forte das escolas finlandesas, que preferem investir em gente. "Não gostamos muito de tecnologia, ela é só uma ferramenta, não é o conteúdo em si. Tecnologia pode ser usada ou não, não é um fator chave para a aprendizagem."
A educação básica dura nove anos. Só 2% dos estudantes repetem o ano, o índice de conclusão é de 99,7%. O segredo do sucesso não está ligado ao investimento, segundo
Jaana, que reforça que o país investe apenas 6% de seu PIB no segmento. "O sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização", afirma.
Tecnologia também não é o forte das escolas finlandesas, que preferem investir em gente. "Não gostamos muito de tecnologia, ela é só uma ferramenta, não é o conteúdo em si. Tecnologia pode ser usada ou não, não é um fator chave para a aprendizagem."
A educação básica dura nove anos. Só 2% dos estudantes repetem o ano, o índice de conclusão é de 99,7%. O segredo do sucesso não está ligado ao investimento, segundo
Jaana, que reforça que o país investe apenas 6% de seu PIB no segmento. "O sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização", afirma.
A diretora do ministério da Finlândia esteve na terça-feira (21) em uma
audiência pública na Comissão de Educação e Cultura do Senado, em
Brasília, para apresentar o modelo de educação do seus país aos
parlamentares brasileiros.
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