Gustavo Uribe, Marcelle Ribeiro
SÃO PAULO
Em meio a protestos, o governo de São Paulo deu início ontem a um
programa de internação compulsória de dependentes químicos. No primeiro
dia, o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod)
recebeu pelo menos vinte pedidos de internação, sobretudo de familiares
de dependentes químicos, e realizou a internação voluntária de uma
adolescente de 16 anos, que, acompanhada da mãe, pediu para ser levada a
uma clínica de reabilitação. Não houve internação compulsória. Os
governos do Paraná e do Ceará já procuraram informações sobre o método
aplicado na capital paulista.
Na
chamada cracolândia, no Centro de São Paulo, a medida não acuou
usuários de crack, que utilizavam ontem entorpecentes à luz do dia.
Agentes de saúde tentavam convencer dependentes químicos a irem ao
centro de referência, que conta agora com um anexo do Tribunal de
Justiça de São Paulo (TJ-SP). A meta do governo de São Paulo é de
expandir a iniciativa, nos próximos anos, para outras cidades do
interior do estado.
A
internação compulsória só pode ser realizada com laudo médico e
autorização judicial. Diferente da compulsória, a internação
involuntária não precisa de determinação judicial e costuma ser
solicitada por familiares, quando o dependente químico não tem mais
condições de responder por si.
SP deverá arcar com custo de leitos
Sem
conseguir convencer o pai a buscar por tratamento, a autônoma Ana Paula
Mira, de 33 anos, colocou calmante no café da manhã dele e o levou
dopado ao local. Há dois anos vivendo nas ruas, Reinaldo Rocha Mira, de
62 anos, carregava um cachimbo de crack no bolso quando deu entrada no
centro de referência. O idoso foi avaliado pelos médicos, mas, como
chegou no final da manhã, o seu caso não foi levado à equipe jurídica.
Só deverá ser examinado hoje pelo juiz, já que o expediente no
Judiciário é de 9h às 13h.
-
Eu não quero ver meu pai morrer do jeito que ele está. Ele não queria
ser internado, mas ele não responde mais por si. Se não fosse dessa
maneira, trazê-lo dopado, ele não viria, continuaria vivendo nas ruas -
disse Ana Paula, que deverá solicitar a internação involuntária do pai.
O
plantão judiciário nem bem havia começado e já havia uma fila de mães
procurando por ajuda. Uma das primeiras a chegar foi a doméstica
Aparecida Miranda, de 54 anos, cuja filha, Simone, de 35 anos, é viciada
em crack e cocaína há 15 anos e está internada em um hospital na Zona
Sul da cidade. Sem conseguir ajuda especializada na unidade de saúde, a
doméstica dirigiu-se sozinha ao centro de referência em busca da
internação involuntária.
-
Ela nunca aceitou, faz tratamento e tem agredido os quatro filhos. Eu
vim aqui para interná-la de vez, para que ela fique um bom tempo em uma
clínica, e não apenas uma semana, como ocorre nos hospitais - afirmou.
Com
as mãos queimadas pelo cachimbo do crack, Vagner José dos Santos, de 35
anos, chegou pela manhã ao centro de referência para pedir a internação
voluntária. Com os olhos vermelhos, devido ao consumo da droga durante a
madrugada, disse ser usuário desde os 14 anos.
-
Eu não aguento mais fumar. Já fui internado sete ou oito vezes e
acredito que, desta vez, vou conseguir me livrar da droga. Você fuma o
crack e, daqui a pouco, sem perceber, está fumando o dedo. A situação é
muito difícil - disse.
A
secretária de Justiça de São Paulo, Eloisa Arruda, informou que o
governo estadual dispõe hoje de 691 leitos para dependentes químicos,
dos quais 360 estão na capital paulista. Ela reconheceu que, no primeiro
momento, a iniciativa não acabará com a cracolândia em São Paulo. O
juiz do plantão judiciário, Iasin Issa Ahmed, informou que, caso não
haja leitos na rede estadual, ele determinará que o governo arque com os
custos de leitos na rede privada.
No
seu primeiro dia, a iniciativa do governo estadual enfrentou protesto.
Com cartazes, um grupo de pessoas ligadas a movimentos sociais e
entidades religiosas criticaram a medida. O padre Júlio Lancelotti, da
Pastoral do Povo de Rua, avaliou o programa como drástico e o considerou
ineficaz.
-
Há uma carência de atendimento social na cidade. Essa é uma medida
drástica e bombástica, que quer facilitar algo que é ineficaz - criticou
o padre.
Mas
o médico Drauzio Varella, que há anos atende detentas usuárias de
crack, avaliou que a internação compulsória irá ajudar pessoas.
-
Nós conhecemos mal a doença, interpretamos mal os resultados dos
tratamentos. Se vai dar certo, vamos ver. Não acho, contudo, que dá
certo cruzar os braços e dizer: "tenho que esperar a decisão
voluntária". Quem está naquele estado, está doente, não tem
discernimento para escolher o que é melhor.
fonte: www.exercito.gov.b
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terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Medida extrema: São Paulo dá início à política de internação compulsória e já recebe pedidos de familiares
Postado por Pr Maroel Bispo -
maroel bispo
às
06:29
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