Por Reinaldo Azevedo
A presidente Dilma Rousseff chega à
metade do mandato. Já dá para saber se vai ou não cumprir as suas
principais promessas. Não vai! A diferença entre a meta e a realidade é
gritante. Em alguns casos, escandalosa. Pegue-se o caso das creches
prometidas pela soberana: dado o atual ritmo, a presidente entregará as 6
mil prometidas na campanha de 2010 só daqui a… 600 anos.
Dilma não cumprirá o prometido nos
setores de energia, rodovias, habitação, aeroportos, creches, saúde e
saneamento, entre outros. Reportagem de Robson Bonin, Ana Luíza Daltro e
Bianca Alvarenga, publicada na VEJA desta semana, faz um retrato das
realizações do governo. Leiam trechos. Volto em seguida.
*
Pibinho, inflação e risco de
apagão. O saldo dos dois primeiros anos de Dilma Rousseff ficou a
quilômetros de distância das metas estabelecidas pelo próprio governo. O
crescimento anual médio no biênio não passou de 2%, o pior início de
mandato desde Fernando Collor. A inflação, medida pelo IPCA, encerrou
2012 em 5,84%. Pelo terceiro ano seguido, houve reajuste nos preços
acima do centro da meta oficial, de 4.5%. O desempenho
econômico, nos dois últimos anos, foi inferior ao de países como o
Chile, a Colômbia e o Peru, onde a inflação não é nem metade da
brasileira e o crescimento é o dobro do nosso. No setor de energia
elétrica, a combinação de poucas chuvas e investimentos atrasados deixou
o país mais uma vez sob a ameaça de um racionamento. Balanços do
próprio governo mostram que mais da metade das obras em usinas de
geração energética possui algum ripo de arraso, duas dezenas de
termelétricas que deveriam estar prontas não saíram do papel e 75% dos
projetos de novas linhas de transmissão não avançam dentro do prazo.
Os contratempos não se limitam a esse setor. Duplicações de rodovias
federais cuja inauguração estava prevista para o ano passado ainda nem
começaram a ser executadas, e extensões em linhas de trem estão com dois
anos de atraso.
(…)
Entregar obras, obviamente, é mais
complicado do que estabelecer metas, sobretudo no universo da gestão
publica, indissociável da burocracia e da ineficiência. Um bom exemplo
são os aeroportos das cidades-sede da Copa de 2014. O objetivo de
privatizar os aeroportos do Galeão e de Confins ainda neste ano é
bastante ambicioso, segundo Claudio Fríschtak, fundador da consultoria
Inter-B e um dos maiores especialistas do país em infraestrutura. O
processo de concessões exige uma série de estudos prévios que devem
ficar prontos em abril, na melhor das hipóteses. Uma vez encerrados,
existe a fase de consulta pública. Por fim, as obras deverão atrair
interessados. "Não somos mais a bola da vez, e o cenário hoje é menos
atrativo do que há alguns anos", afirma Frischtak. “A percepção entre os
investidores é que houve uma piora no ambiente regulatório”. Mais
imponderáveis são as obras tocadas pelo setor público nos aeroportos que
não serão privatizados. A lnfraero não é famosa por cumprir
cronogramas. Os vícios são comuns a outras áreas da administração. diz
Frischtak: "O planejamento é falho, as licitações são problemáticas e
resultam muitas vezes em corrupção".
O saneamento básico é um caso
emblemático de como os recursos públicos acabam, muitas vezes, indo para
o ralo. O governo federal ampliou as verbas para a área, mas as obras
ficam, normalmente, a cargo das prefeituras. Como a fiscalização é
falha, os recursos nem sempre são aplicados da maneira prevista. Assim,
de acordo com o presidente do Instituto Trata Brasil. Édison Carlos, não
será possível atingir a meta de universalizar a coleta de esgoto até
2030. Hoje, metade das residências ainda não está ligada à rede. Diz
Carlos: "Para alcançar o objetivo, deveriam ser investidos em tomo de 15
bilhões de reais por ano, mas os gastos têm sido inferiores a 10
bilhões. Então, esse prazo de 2030 deve ir para 2040, ou até 2050".
(…)
Voltei
Pesquisas recentes indicam que o governo
é aprovado por uma expressiva maioria dos brasileiros. Isso leva os
governistas mais entusiasmados a confundir essa aprovação com o
cumprimento das metas. Trata-se, obviamente, de coisas distintas.
Em parte, essa popularidade decorre da
fraqueza das oposições, incapazes de converter as irresoluções e a
incompetência do governo num discurso político alternativo, que é o que
se faz em todos as democracias do mundo.
Em Banânia, inventou-se uma espécie de
moto-contínuo do "bom-governisno": os opositores não o criticam porque
ele é popular, e ele é popular porque, afinal, ninguém o confronta - a
não ser, claro!, a imprensa independente. Ocorre que esta não disputa,
felizmente!, o poder. Não é esse o seu papel.
Com alguma frequência, quando se avalia
que um governo é "bom", também se está considerando se existe uma
alternativa e se algum outro partido - ou liderança - seria capaz de
fazer algo melhor. Como não se vê uma força disposta a arrostar com o
discurso oficial, os incompetentes falam sozinhos, exaltando, não raro,
as virtudes que não têm.
Querem um bom exemplo? Pegue-se o caso
do programa "Minha Casa Minha Vida". Em 2009, Lula anunciou a construção
de um milhão de casas até 2010. Na campanha, Dilma prometeu mais dois
milhões até 2014. Ampliou, depois, a meta para 2,4 milhões - ou seja,
3,4 milhões até o fim do seu mandato.
O governo anunciou no mês passado a
entrega de um milhão de casas. Duvido que seja verdade, mas vá lá… Ainda
que seja, foram necessários, para tanto, três anos e meio. Façam aí uma
regrinha de três: os outros 2,4 milhões tomarão mais oito anos, quatro
meses e oito dias. O que Dilma prometeu para o fim de 2014 só se
realizará em… abril de 2021!
Em todo o mundo, governos deixam de
cumprir promessas. Só que pagam um preço por isso. O que é praticamente
inédito - obra de nossa democracia-jabuticaba - é a oposição não saber o
que fazer com isso.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo" - Extraído do Blog Demais, do jornalista Dimas Oliveira.
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